Adriano Lourenço, 25 anos, treina na Academia Hon Kit Wushu, em São Paulo, com Thomas Chan, filho do então Mestre Chan Kowk Wai aceitou fazer essa entrevista discontraída e reveladora a nosso Blog InforFEKEP.
1)Como conheceu o Kung Fu/Wushu?E quando começou a treinar?
Iniciei meu treinamento de Kung Fu em 1994 com Rinaldo Garcia, professor da Academia 5 Formas. A ele devo muito do que sei hoje, pois presenciou meus primeiros passos como praticante de Kung Fu e me mostrou o mundo das artes marciais. Adquiri base de treino com aprendizado em Sanda e Taolu e, assim que me formei em seu estilo, o prof. Rinaldo acreditou em minha capacidade e levou-me até o mestre Thomas Chan. Isto eu tinha quinze anos de idade e, desde então, venho me dedicando ainda mais ao Wushu.
2)Lembra-se de tua primeira competição?
Sim!
Minha primeira competição eu tinha apenas nove anos de idade. Foi um campeonato
aberto de Artes Marciais e me lembro bem de meu pai tentando me descontrair com
suas piadas e me ajudar a ficar mais tranqüilo durante a competição. Nesta
época ele sempre ia às competições que participava para me apoiar. Participei
tanto com taolu como também luta e foi uma ótima experiência. Já minha primeira
competição oficial pela CBKW foi aos meus 17 anos, em Goiânia, onde fui buscar
meu primeiro título nacional. Antes disso, tive que passar por outras
competições de classificação como na Seletiva Estadual e a Nacional para
obtenção de ranking. Foi um momento mágico, pois senti que realmente estava trilhando
o caminho certo de minha vida e foi a partir daí que conheci pessoas maravilhosas
que me deram as primeiras palavras de apoio e força para minha jornada. Uma
sensação maravilhosa e inexplicável que eu faria tudo para sentir novamente.
3)E o primeiro Mundial?
Bom,
este dia foi muito especial e perturbador, tanto na pressão como atleta quanto
nas exigências como pessoa. É uma exigência e uma batalha enorme até hoje. Muitos
não têm idéia de como a vida de um atleta que não tem apoio ou patrocínio é
difícil. Neste evento cheguei quase a desistir no final não porque não estava
treinando bastante. Pelo contrário, treinava com muita garra e vontade, porém,
as questões financeiras tiravam meu sono e acabavam prejudicando meu descanso e
minha alimentação. Estas questões me tiraram totalmente do foco do mundial e
tive um abalo grande em minhas estruturas emocionais. Mas, graças a Deus, em
todas as dificuldades que encontrei recebi muita iluminação. Sou muito grato
aos amigos da Sino Brasileira de Kung Fu, que me ajudaram muito não somente
nesta competição, mas também arrecadando de várias formas verba necessária para
me manter e viajar para competir. Tenho uma enorme gratidão pelo mestre Thomaz
e claro, pelo meu parceiro Alex Rodrigues que sempre me apoiou e acredita até
hoje em minhas conquistas. Falo muito em gratidão, pois somente eu sei a dificuldade
que passei naquele momento e acredito muito que Deus vem me guiando e trazendo
sempre luz nesta caminhada.
4)Até hoje (2012) qual foi, ou foram, os títulos mais importantes em tua carreira de atleta?
Considero
todos os títulos importantes para minha carreira, pois cada um deles teve um
sentindo especial naquele momento que estava passando em minha vida. E o mais emocionante
foi no Mundial da China; não conquistei medalha, mas foi lá que possibilitou a
vaga para as Olimpíadas. O meu Primeiro Brasileiro em Goiânia (Goiás) foi uma grande
felicidade para mim por ser meu primeiro Brasileiro de Wushu Moderno. Fora os
Panamericanos e Sulamericanos... enfim, toda competição para mim tem um sentido
diferente. Não é somente pela medalha, pois o que se conquista vai além disto.
5)A quem você deve suas vitórias?
As minhas vitórias eu devo muito aos meus mestres e professores que me motivaram para ser o que sou. Meu primeiro professor, Rinaldo Garcia, que me treinou, me mostrou o mundo do Kung Fu e me ensinou a ser um grande guerreiro com princípios de um artista marcial. Lembro-me sempre do juramento que fazíamos em todo exame de faixa, e o carrego até hoje por possuir os
princípios
que todo artista marcial deve seguir. Ao mestre Thomaz que me adotou como um
filho e sempre está ao meu lado me apoiando ou guiando. Tenho com ele a
liberdade de treinar sozinho, mas quando percebe que estou parando ou desviando
do foco, lá está ele para me trazer ao caminho certo. Ao meu professor de Kick
Boxing, João Werdini, com o qual adquiri muitos conhecimentos nesta arte e me
mostrou o caminho da luta e como podemos ser fortes. Ele é uma grande pessoa
que também veio do Kung Fu para acrescentar em meu caminho. E, por último,
querendo ou não, como bom brasileiro que sou, ao professor de futebol Jofinha,
um grande mestre de ensinar como uma equipe deve trabalhar. Era meu padrinho,
sempre estava lá no meio de minhas travessuras e me apoiava nas dificuldades
que passei na infância. Foi com ele que adquiri uma confiança enorme em mim.
Ele não aceitava alunos que jogavam bem, e sim os ruins de futebol. Incentivava-nos
a colocar amor e raça na quadra independente se estávamos perdendo de dez a
zero, ou se não tínhamos tênis para jogar. Desta forma ele nos mostrava que o
trabalho em equipe com união e perseverança é o que faz a força final.
A
todos estes mestres, deixo meu sincero agradecimento, pois me mostraram como
uma simples palavra de inspiração ou motivação pode salvar uma pessoa. E podem
ter certeza que todos eles me salvaram e sempre serão os heróis da minha vida.
6)Quais os katis que você gosta de fazer?
Mesmo voltado mais ao moderno atualmente, gosto muito de fazer tradicional, mas muito mesmo. Não sei muitos taolus (katis), mas os poucos que sei, treino e tento aplicar dentro do meu opcional de Wushu, não exatamente os movimentos, e sim algo que possa ajudar na criatividade dos meus movimentos dentro do taolu. Gosto muito de fazer Baji Chuen, Pudao, o Terceiro Shaolin do Norte, entre outros. Mas as formas que realmente me identifico e me dão energia são Nanquan e Nandao.
7)Como é o Adriano Lourenço dentro e fora das competições?
Eu dentro das competições sou o mesmo fora. Claro que a mente muda o foco, mas sempre tento ser eu mesmo em cada situação. Na competição tento ser uma pessoa que tenta se superar, o que me deixa feliz ou desapontado às vezes. Mas acredito que tudo isto faça parte do crescimento e evolução como atleta. Já fora das competições me acho um palhaço que adora fazer as pessoas sorrirem e mostrar para elas algo positivo em suas vidas, pois sempre há. Tento mostrar que não se deve olhar para trás e ficar remoendo o passado e sim seguir em frente sempre com sorriso no rosto. Sou bastante amigo e me preocupo com cada um deles. Adoro dançar hip hop e outros estilos de dança, enfim, gosto de fazer coisas que me fazem sentir bem e feliz para que possa compartilhar boa energia com quem está por perto e assim, poderem fazer o mesmo para os outros.
8)E para este ano quais serão seus desejos e objetivos?
Desejo que o Wushu no Brasil venha a crescer e fortalecer mais ainda, pois tem muito caminho pela frente. Pretendo treinar mais focado em meus detalhes, voltar a estudar em uma universidade que, por falta de verba, tive que parar, trabalhar muito na academia onde treino e administro minhas aulas e poder fazer o possível para concretizar meu sonho de construir um centro de treinamento esportivo, cultura e arte. Esta é uma das maiores metas de minha vida. E claro, poder evoluir sempre não somente como atleta, mas também como uma pessoa melhor.
Nossa... Só de falar já sinto um frio na barriga gostoso. Foi quando tive o privilégio de poder participar do evento paralelo às Olimpíadas de Beijing 2008, sendo um dos três brasileiros a representar o país no Wushu Tournament Beijing 2008. Esta foi a minha segunda ou terceira competição internacional de alto nível onde estavam presentes grandes nomes de atletas conhecidos. Eu estava muito nervoso porque era diferente de tudo que já tinha vivenciado. Conheci grandes amigos por lá e que até hoje torcem por mim e eles são os mesmos que competem comigo. Isto é algo muito legal, pois mesmo sendo “adversários”, me apóiam e acreditam naquilo que faço. Foi um momento muito especial em minha vida e que guardarei com muito carinho dentro do meu coração. Tenho muito a agradecer ao presidente da CBKW que me apoiou muito nesse evento, pois ele estava sendo mil pessoas ao mesmo tempo; era presidente, amigo, pai, irmão, técnico... ou seja, ele sempre estava lá do meu lado dando força.Obrigado Marcus Vinicius!
10)Qual seu objetivo no Kung Fu/Wushu?
Meu
objetivo é ser além de um grande praticante, um grande mestre e técnico de
Wushu. O conhecimento que tenho e que terei passarei para frente aos próximos que
estão por vir no Wushu. Acredito que com este meu trabalho de incentivo e
repassando o que aprendi será um passo para surgirem novos nomes no Wushu, e
estes brasileiros serão capazes de trazer conhecimentos de grandes mestres da
China para o Brasil, acrescentando ainda mais o que temos por aqui.
Adriano Lourenço sempre foi exemplo não só para o Wushu do Brasil, mas sim na vida.Pessoa que é absolutamente o retrato de vários outros atletas de diversas modalidades.Exemplo de superação e garra, mostrando sempre o quanto ama o que faz.
As dificuldades sempre são a marca desses atletas, onde os seus técnicos procuram sempre formas de não abaterem por diversos problemas, sociais e econômicos.
Agradecemos não só pelos seus títulos, mas por ser tão singelo e admirável.Sucesso sempre a este que faz do Wushu do Brasil, um verdadeiro espetáculo.